O mês de março é sempre marcado por muitos acontecimentos e questionamentos em relação aos direitos e conquistas das mulheres. Durante a última cerimônia do Oscar, Frances McDormand fez o nosso coração explodir de orgulho ao pedir que todas as mulheres, indicadas ao prêmio naquela noite, se levantassem para serem vistas. A atriz, que ganhou pela segunda vez a estatueta, fez questão de enumerar todos os cargos que envolvem a indústria do audiovisual: atrizes, cineastas, as produtoras, diretoras, roteiristas, diretoras de fotografia, compositoras, designers... E, quase como uma palavra de ordem, incentivou os produtores presentes a buscarem e se interessarem pelo o que aquelas mulheres têm a dizer.

Depois de todos os escândalos e manifestações que vêm acontecendo em Hollywood desde o ano passado, é importante ressaltar as mensagens de busca por igualdade de gênero no mercado de trabalho. E, por mais que essa indústria gigantesca esteja a quilômetros de distância de nossas vidas, nós também nos sentimos representadas diante dessa atitude tão generosa e empoderada da atriz.

Em contrapartida, aqui em terras tupiniquins, fomos surpreendidas pelo assassinato, ainda sem respostas, de uma parlamentar que, contra todas as estatística atuais do Brasil, travava uma forte luta em busca de um país mais digno e igualitário. Negra, mulher, mãe, homossexual, cria da favela... A quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro foi executada de maneira brutal, abalando todas as nossas convicções e esperanças.


Martha Medeiros, em uma de suas incríveis crônicas, escrita em 2006 e republicada no livro "Doidas e Santas", mostrou uma busca muito sincera e coerente sobre o assunto:

"Já me perguntaram uma centena de vezes quais as diferenças entre homens e mulheres, as diferenças entre a literatura feita por nós e a feita por eles, a velha ladainha: diferença, diferença. Nunca dei corda para essa questão, prefiro exaltar nossas afinidades. Não me interessa incrementar essa guerrinha antiga, que faz parecer que as conquistas femininas são resultado de uma revanche. Sem essa, não contem comigo para ser mais uma a colocar cada sexo num canto oposto do ringue".



O texto, na verdade, é uma crítica apaixonada sobre o dom de Almodóvar em enaltecer nossas virtudes e capacidade de nos reinventar no filme "Volver". Além de assumir que o grande diretor espanhol conseguiu mexer com suas convicções de estarmos todos no mesmo barco.

Doze anos se passaram e ainda estamos aqui tentando entender por que se perde tanto tempo falando das diferenças, quando de fato podemos caminhar cada vez mais juntos.


Quando vamos conseguir tirar de pauta assuntos como as diferenças de salário, escassez de mulheres em cargos de comando, abuso sexual e práticas opressoras no ambiente de trabalho, falta de credibilidade em áreas que nos propomos sermos especialistas, o que devemos usar ou como devemos nos comportar para não sermos desrespeitadas e finalmente partimos para outra? Em um mundo no qual homens não sejam endeusados apenas porque participam ativamente da educação de seus filhos ou preparam um jantar paras suas esposas, enquanto mulheres vivem descabidos dilemas diários só porque nasceram com os tais cromossomos XX.

Em sete anos de empresa, afirmar que o fato do Tiê ser originalmente formado por duas mulheres não nos gerou alguns obstáculo seria um descaso com as nossas conquistas. Empreender neste país é uma loucura, até você entender como a "banda toca", como funciona toda a burocracia do país, sobre o isolamento social que todo empreendedor sofre, de assumir riscos diários, de aprender a receber duzentos "nãos" para ganhar um "sim", técnicas de negociação, entre outros...

Sinceramente, você até esquece que ser mulher é também um problema. Problema é de quem nutre esse pensamentos antiquados e fora de hora. Não é mesmo?

Trabalhar com a comunicação de empresas nos exige um certo envolvimento com a causa do cliente. Geralmente, temos acesso direto com os donos das ideias, e essa é a parte mais encantadora do processo. Já ouvimos e vibramos com muitas empreendedoras, mulheres que cansaram dos seus cargos em grandes empresas e se arriscaram em um novo negócio, mulheres que acreditaram e apostaram no projeto de seus parceiros, mulheres que empreenderam por necessidade, mulheres que amam o que fazem e querem fazer disso um empreendimento e também aquelas que estão em um cargo de liderança simplesmente porque são as melhores dentro de suas áreas. Elas vêm de diversas classes e idades, mas todas são dotadas de uma paixão comovente e uma determinação invejável.

Não que os homens e seus projetos não sejam merecedores de tanta admiração. Porém, é mais comum. Muitos são criados com esse foco e não precisam necessariamente se adaptarem para serem donos de suas próprias histórias e ideias.

Falando neles, não podemos deixar de assumir a importância de muitos amigos, parceiros e conselheiros que sempre nos apoiaram, acreditando e reconhecendo nosso trabalho. E por conta de hoje ainda termos uma cultura mais machista do que igualitária, sabemos que o "selo deles de confiança" é que nos fez fechar bons negócios. E sobre o 8 de março preferimos seguir com o lema:

¡No me digas "feliz día", levantate y luchá conmigo!



Não, esse blog não tem a intenção de abrir grandes debates sobre frases, filmes e livros de empoderamento feminino. Estamos aqui para falar sobre design, criação e gestão de marcas. Sobre como se posicionar no mercado de uma maneira clara e relevante, mas também falarmos de nós: Tiê. Formado por duas mulheres.

So.. Let's do it!